segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Fenix

“Embora eu não tivesse caído na última batalha, ainda assim eu estava ferida demais para continuar. Eu devia trazer alguém em meu lugar e finalmente descansar. E era por isso que eu estava ali, vestida com a velha jaqueta e calça de couro e uma camiseta cortada do Metallica. Brincando com o zippo enquanto esperava por ele. Eu devia sempre manter o fogo por perto, ainda mais quando estivesse machucada.
Não demorou muito para que eu visse o carro dele dobrar a esquina e logo parar em minha frente. Sem dizer nada, abri a porta e entrei, dei-lhe um beijo rápido e pedi que continuasse.
- O que tinha de tão importante para me falar, que não podia nem mesmo esperar eu terminar a reunião? – ele perguntou com aquela voz rouca que me acalmava.
Eu permaneci quieta olhando para o outro lado enquanto via os estabelecimentos passarem cada vez mais rapidamente por nós. A mão aconchegante dele passou por meu cabelo cor de fogo enquanto eu fechava os olhos, tentando fazer com que aquele momento perdurasse por toda a eternidade.
- Eu simplesmente precisava ficar com você. Eu estava com medo.
- Uma nova crise? – ele perguntou desviando o olhar da rua para mim, e voltando a olhar para o caminho.
Eu apenas afirmei com a cabeça. Eu não podia dizer a verdade a ele, muito menos a humano nenhum. Me chamariam de louca e me prenderiam num hospício e quando eu falecesse eles veriam aquilo como um fenômeno “demoníaco” e então levariam a minha sucessora para a morte ou para um laboratório, e assim as trevas venceriam e o mundo acabaria.
Perdida em meus pensamentos nem percebi quando o carro parou em frente à conhecida mansão, onde eu estava morando nos últimos 13 meses. Ele abriu a porta e então eu despertei totalmente de meus devaneios. A mão dele apoiou a minha como ele sempre fazia. E então seus dedos enlaçaram os meus me levando para dentro.


- Na segunda feira iremos procurar um médico... eu sei que você não gosta disso, mas querida, pense bem, imagine-se vivendo sem essas crises? – ele disse tirando a espuma do meu rosto. Estávamos quase totalmente submersos na enorme banheira.
- Não adianta, você sabe disso. Nem remédios, nem terapia, nem nada. Nunca adiantou.
- Jenny...
- Sh... somente me abrace, sim? – eu pedi.



- John? – eu o chamei baixinho. Estávamos na cama, com as pernas entrelaçadas.
- Hum?
- Eu amo você.
Senti o abraço dele entrelaçar meu corpo pequeno e então acabamos adormecendo novamente.


Ele ainda estava dormindo quando eu levantei. Eu deveria ir embora para não coloca-lo em perigo. Eu devia ir para que outra pudesse entrar em meu lugar.

Era noite quando eu saí, andei pela rua tentando não ser vista nem mesmo pelos mendigos que moravam nas redondezas. E assim andei até um ponto alto daquela pequena cidade. Eu alçaria voo de lá.

Sentir novamente o vento batendo contra minhas penas flamejantes e estar finalmente em minha verdadeira forma era algo indescritível. A sensação de liberdade estava misturada com a sensação de arrependimento e perda, por tudo o que estava deixando para trás. Mas era necessário e não devia ser lamentado.

Eu vi cidades, países, e continentes passarem por mim e as lagrimas queimarem mais em minha garganta do que o fogo que crepitava por todo o meu corpo. Enfim a fênix voltava ao seu ninho depois de 110 anos. Era pouco pra alguém da minha idade, mas as trevas tem estado muito forte ultimamente. O mundo já não era o mesmo de antigamente, as pessoas o transformaram em um campo de batalha onde todos são inimigos de todos.

Eu me aconcheguei em meu precioso ninho e enfim pude queimar como esperei tanto. Meus olhos estavam cansados demais para ficarem abertos, e a ultima coisa que me veio a mente fora John.”






- Sahib, ajuda aqui. Tem uma criança aqui.
Enfim, a pequena fênix voltara em forma humana.

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